...............................................................................................................................................

The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
....................................................................................................................................................

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Confesso que tenho este fraquinho

A Ilustre Casa de Ramires não é Os Maias. Ou seja, não é a obra-prima do romance português. Mas se contar o número de vezes que reli ambas as obras, suspeito que A Ilustre casa de Ramires fica a ganhar.

Porquê este encanto? A estrutura é simples, mas eficaz (quase pós-moderna, diria eu, se a mesma ideia não viesse já do D. Quixote): Há um livro dentro de um livro e os dois são apresentados em paralelo. A personagem principal, Gonçalo Mendes Ramires, escreve uma história passada com o seu antepassado Tructesindo Mendes Ramires; e as peripécias desta, cheia de gestos heróicos, crueldades, intransigências e pundonor contrastam com a mansa vida quotidiana de Gonçalo, cheia de auto-indulgências, lapsos de honra, pequenas cobardias, pequenas lealdades e pequenas generosidades.

Da justaposição resulta uma ironia que não tem a finura da que nos é presente n'Os Maias. N'A Ilustre Casa de Ramires a ironia é dada em traços carregados pela repetida justaposição de duas éticas incompatíveis, sem que o protagonista se chegue a aperceber desta incompatibilidade - que é óbvia para o leitor - e sem que deixe de se identificar, pela imaginação, com aquela que não é a sua no mundo real.

Esta dissociação entre ética imaginada e ética real é típica, penso eu, de sociedades sobre as quais pesa demasiada História. Assim com Portugal. Tivemos os nossos heróis e portanto, num qualquer recanto da nossa alma, ainda os temos. Fomos os maiores, e nesse mesmo recanto ainda o somos. E quando o mundo real repetidamente nos mostra que assim não é, então os nossos medíocres são mais medíocres que todos os outros e nós os mais insignificantes entre os insignificantes. Sempre, e ainda assim, os maiores.

Ou seja, sofremos daquilo a que dantes se chamava psicose maniaco-depressiva e hoje se chama doença bi-polar. A doença não tem cura: mas para a manter sob controle A Ilustre Casa de Ramires é, tal como A Cidade e as Serras, um medicamento eficaz.

Sem comentários: