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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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terça-feira, 4 de março de 2008

Houve os que gritaram e houve os que resistiram calados

Há uma acusação contra os professores que recentemente se tem avolumado: que nunca protestaram nem se insurgiram em nome dos alunos e do ensino, mas que protestam e se insurgem em nome dos seus estreitos interesses corporativos.

Encontro alguma justiça e muita injustiça nesta crítica: há professores que andam há décadas a lutar pelo ensino e pelos alunos contra a tecnoburocracia do Ministério, mas nunca conseguiram que a sua voz chegasse à praça pública. Não admira que esta os acuse de nunca terem falado - mas falaram, e falam.

Durante décadas o poder político descentrou do ensino a «educação», sobrecarregou as escolas e os professores de tarefas que não lhes competem, afogou o sistema numa burocracia monstruosa, baixou os níveis de exigência, fomentou a indisciplina e o incivismo.

Como reagiram a isto os professores? Uns aderiram às modas; outros, muitos, fizeram das tripas coração e, já que não podiam ensinar com as políticas educativas vigentes, ensinaram, e bem, apesar dessas políticas. Foram décadas de heroísmo silencioso e resistência discreta, praticada dia após dia enquanto na rua outros professores se manifestavam ruidosamente - com toda a legitimidade, de resto - pelos seus salários, pelas suas carreiras e pelas suas prerrogativas.

Hoje aqueles professores vêem-se, em vez de louvados pela sua resistência e dedicação, censurados pelo seu silêncio. Talvez seja esta, no fim, a maior das injustiças - maior ainda que o cerco montado pelo novo Estatuto da Carreira Docente, pela nova lei da gestão escolar, pelo novo modelo de avaliação e pelo novo estatuto do aluno, cerco este que lhes fecha a escassa margem de manobra que lhes permitia ainda resistir e ensinar.

6 comentários:

LA disse...

Não sei se estás a par desta iniciativa dos ingleses que consiste em persuadir alguns dos melhores alunos de Oxford e Cambrige para ensinar em escolas com problemas. Este tipo de alunos nunca iria, normalmente, parar às escolas, são alunos que futuramente irão trabalhar em lugares de topo.
Como sei que te interessas por estas coisas, aqui vai o link.
De certeza que arranjas mais coisas sobre o assunto, desde há uns tempos tenho lido notícias sobre isso.
Claro que em Portugal este tipo de coisas são impossíveis de fazer, só estou a mandar por achar curioso:

http://www.timesonline.co.uk/tol/life_and_style/education/article3471192.ece

RioDoiro disse...

Meu caro. É o que acontece sempre que se tem razão cedo demais.

Mas eu suponho que não andarei muito longe da verdade se disser que o José Sarmento continua a sentir que a luz ao fundo do túnel pode muito bem voltar à estaca zero caso os cordéis que anteriormente catrafilaram a voz de alarme à opinião pública voltem a puxar.

O seu dilema, como o meu é o de saber de será desta que os professores se libertam do torpor.

Caro JLS, por muito aborrecido que seja e muito embora possa acontecer que um punhado de destacados consigam furar o esquema, o que interessa é saber se o grupo longamente resistente que refere tem massa crítica. Aqui é que a porca torce o rabo.

Eu suponho que a batalha realmente dura está ainda para chegar, e terá lugar entre portas.

[Este fim de semana devo ter tempo para descascar o Prós & Contras e cascar, pelo menos no secretário de estado. Se tiver tempo no caramelo da CONFAP].

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Anónimo disse...

Olá.

Gostei da reflexão. Muito oportuna. Importa, e dá força, conhecer blogues de pessoas que resistem.

Passou pelo correntes e deixou lá um comentário.

Tem tido actualizações, muitas, mais do que é costume, mas os tempos são para isso.

Não tenho o seu email.

http://correntes.blogs.sapo.pt/

Abraço,

Paulo Prudêncio.

Anónimo disse...

O range-o-dente põe o dedo na ferida. Há massa crítica? As batalhas eram e serão dentro de portas contra os burocratas instalados que se esforçam por entravar os que gostam do que fazem e empurram os alunos para cima. Esses não servem. Estragam a rotina, opõem-se à mediocridade e há que cercá-los.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Não sei se há massa crítica. Às vezes uma pessoa sozinha pode fazer muita coisa, para mais nestes estranhos tempos que vivemos em que os blogues, os telemóveis e o youtube vieram modificar, de uma maneira que ainda desconhecemos, as relações de poder...

Mistérios da Educação disse...

Com prazer elejo as suas palavras para retratar a situação actual a nossa classe, que contra ventos e marés vai-se tentando conduzir os "filhos da nação" (nossos filhos) a bom porto. Pena que andem tantos governos há tanto tempo a meter "água"...

Os melhores cumprimentos!