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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Superstição, manuais escolares e politicamente correcto

As pedagogias românticas procuram manter o ensino colado à "realidade do aluno" (ver a propósito este artigo do Ramiro Marques). À realidade do aluno, entenda-se bem, e não à realidade tout court: aquela, por exemplo, em que o Universo se expande em velocidade acelerada. A "realidade" das pedagogias românticas não é a realidade do mundo: é a normalidade nivelada por baixo. Assim, os manuais de línguas modernas podem apresentar textos em que se fala de astrologia sem nunca a pôr em causa. "Normal" é cada um saber o seu signo e guiar-se por ele em maior ou menor grau; pôr isto em causa seria coisa de elitistas, excêntricos ou anormais.

A mesma ausência de contraditório se verifica quando o tema é o ambiente (tudo o que é "natural" é bom, tudo o que é artificial é mau), a violência doméstica (as mulheres são sempre vítimas boazinhas, os homens sempre agressores mauzões, e das crianças e velhos não se fala para não complicar a questão), ou da fome e da pobreza (são sempre crimes de omissão e nunca de comissão). O multi-culturalismo é a regra. As vítimas de racismo e xenofobia nunca são brancas nem de classe média. Todas as famílias são bi-parentais e quase todas têm dois filhos, um de cada sexo. A guerra deve-se à violência inata dos homens e nunca a políticas deliberadas; em vez de poesia há lyrics; não há arte para além dos graffitti nem música para além dos sucessos do momento.

Contrariamente ao Ramiro, não vejo nesta visão do mundo uma coisa de esquerda. Nem vejo nas que se lhe possam opor uma coisa de direita. As pedagogias românticas são ingénuas e politicamente ecléticas no melhor dos casos, reaccionárias no pior. São inimigas figadais do princípio do contraditório, mas contradizem-se a si próprias. Proclamam morte à inteligência sem ousarem dar vivas à morte. O seu antídoto é o pensamento crítico, que devia ser uma disciplina fundamental nos curricula.

2 comentários:

RioD'oiro disse...

Caro JLS,

Concordo com a quase totalidade do seu post.

Apenas discordo relativamente à gradação (de qualquer forma pouco significativa) relativamente à paternidade da ideia ou, pelo menos, a quem mais a segue.

Sendo verdade que muita gente de direita embarcou nesse disparate, comprou-o (à borla). A origem da coisa está na mentalidade revolucionária que é intrinsecamente de esquerda.

A mentalidade revolucionária usa todas as 'ferramentas' que descreve e está-se nas tintas relativamente à sua razoabilidade ou não. Usa-as porque servem o propósito de avacalhar tudo quanto confere à sociedade consistência social, inércia que lhe dá estabilidade, porque, finalmente, lhe permite (julga ela) reinar sobre uma mole humana desestruturada e incapaz de pensar por si própria. Apresenta-se como uma variante do cacique.

Do sexo à religião, tudo serve.

Nan disse...

Tem razão. A «pedagogia romântica» não é de esquerda, é tontice pura, é fruto de adultos que ficaram presos numa adolescência eterna e não querem contrariar as crianças para não lhes ouvirem o «Não gosto de ti!» que todos nós dissemos um dia aos nossos pais quando nos contrariaram - atitude que mais tarde lhes agradecemos. Ser-se contra tal conglomerado de tolices não é de direita, é apenas sensatez.