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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Um golpe de estado económico é um golpe de estado tout court

Na Grécia demitiram um primeiro-ministro por ousar falar em referendo e puseram em seu lugar um homem de mão da Goldman Sachs. Na Itália moveram com toda a facilidade um primeiro-ministro inamovível e substituiram-no por outro membro da mesma associação de malfeitores. 

Em Portugal, onde as eleições puseram na chefia do governo um senhorito deslumbrado pela vertigem radical do neo-liberalismo, enquadraram-no não por um, mas por dois acólitos da seita: Vítor Gaspar e António Borges.

O problema era o défice, disse a troika - também ela governada a partir de Wall Street. E era a dívida pública, e a privada, e a despesa. E a produtividade, mas essa podia ficar para mais tarde: para os amanhãs que cantam. 


A solução era a austeridade, mesmo que tivesse que ser aplicada em período de recessão. O objectivo era mudar de políticas para que os problemas diagnosticados fossem resolvidos. Mas o tempo passou e os problemas agravaram-se. Era preciso insistir, disseram-nos. E insistiu-se. E os problemas continuaram a agravar-se. E os portugueses começaram a ler os economistas, e começaram a dar-se conta que os problemas se continuariam sempre a agravar porque a sua causa principal estava nos remédios utilizados - segundo a seita - para os resolver.

A única mudança que se sentiu - que se sentiu mesmo, com os olhos e os ouvidos e a pele de cada um - foi na situação dos trabalhadores por conta de outrem. E foi uma mudança para pior. Começou-se com os funcionários públicos, passou-se depois ao sector privado, aos reformados, aos pensionistas, e sempre no mesmo sentido: reduzir e precarizar rendimentos, enfraquecer o Estado Social.

Até que se ultrapassou uma fronteira. Pedro Passos Coelho, há três dias, e hoje Vítor Gaspar, disseram finalmente ao que vinham. Não era à redução do défice, que aumenta, não era à redução do desemprego, não era ao aumento da produtividade. Tratava-se tão-só de reduzir salários - o mais possível e o mais permanentemente possível - de precarizar vidas e de transferir riqueza de quase toda a gente para um único beneficiário: a oligarquia financeira e rentista que nunca perdoou o 25 de Abril.

Francisco Louçã falou num golpe de estado económico. Mas um golpe de estado económico nunca é só económico, porque uma transferência de riqueza desta magnitude não se pode fazer sem uma correspondente transferência de poder. No fim de semana passado o regime político mudou em Portugal. Sem consentimento dos portugueses.

Pedro Passos Coelho já não é o primeiro-ministro da República Portuguesa. É o cabecilha duma junta golpista que usurpou o poder a partir do momento em que ousou "contornar" o Tribunal Constitucional. Não lhe devemos obediência, mas resistência. A qualquer custo.




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1 comentário:

Manuel R disse...

Através da Troika, a UE, o BCE e o FMI têm uma estratégia para criar na Europa as "regiões de mão-de-obra muito barata".
Nesse sentido são criados cenários, que gradualmente se vão tornando realidades, para tornar os países pobres da Europa do Sul em "oficinas de trabalho de baixo custo".
Aos países do Sul, casos da Roménia, Bulgária, Hungria, Croácia e Sérvia, não lhes vai ser permitido um crescimento económico significativo. Mas como ainda são poucos, é necessário aumentar o "grupo do trabalho barato", juntando-lhe a Grécia e Portugal.
É a estratégia para consolidar os "países europeus de salários low cost", de forma a criar condições para que volte a ser possível o retorno das indústrias mais produtivas dos ditos "países ricos" à Europa.
É a "TEORIA DA PROXIMIDADE", que permite baixos custos na localização e implantação e um melhor e mais fácil controlo da produção. É o melhor refúgio para evitar a deslocalização industrial para os países asiáticos.
É também uma tática para diminuir e combater a emigração crescente vinda da África e da Ásia.